Recentemente, uma pesquisa inédita conduzida por um grupo de pesquisadoras da Embrapa Alimentos revelou uma novidade: o concentrado proteico de feijão carioca, destacando-se como uma possível alternativa à proteínas de origem animal. Saiba tudo!

feijão carioca
Arina Krasnikova / Pexels

Concentrado proteico de feijão carioca: o estudo

Se você está procurando uma fonte nacional de proteína vegetal para adicionar a alimentos à base de plantas, o concentrado proteico de feijão carioca pode ser a solução que você procura.

Desenvolvido por pesquisadoras da Embrapa Agroindústria de Alimentos, o concentrado proteico é feito a partir de um grão amplamente cultivado e consumido no Brasil.

Cabe ressaltar que diversos produtos alimentícios podem utilizar o ingrediente, que contém quase 80g de proteína a cada 100g do produto. Isto é, poderá ser usado em hambúrgueres, empanados, salsichas, linguiças, leites vegetais, iogurtes, panificação, bebidas e suplementos alimentares.

A pesquisa, viabilizada com recursos da Embrapa e do Programa de Incentivo à Pesquisa do GFI (The Good Food Institute), teve como ponto-chave desenvolver um ingrediente proteico de alta qualidade, utilizando matéria-prima nacional e começou em 2019.

“Começamos a desenvolver o projeto em 2019, quando ninguém no Brasil ainda pensava na proteína de feijão. Passamos pela paralisação da pandemia e estamos entregando, em 2023, um insumo inovador, com características competitivas aos ingredientes que se encontram no mercado e com potencial para produção nacional. Entendemos que estamos sendo pioneiros nessa tecnologia e estamos muito felizes em fazer parte dessa história”, afirma Caroline Mellinger, uma das responsáveis pelo estudo.

Além disso, um dos motivos que deram origem a esse estudo foi o aumento na oferta e demanda de produtos à base de plantas, conhecido como movimento plant-based, cujo objetivo é justamente substituir produtos de origem animal.

Outro aspecto importante é que o feijão é a leguminosa que mais representa o nosso país, fazendo parte da alimentação da maioria dos brasileiros. Consequentemente, é amplamente produzida por aqui, inclusive para exportação, o que o torna uma matéria-prima de fácil acesso.

Diante disso, as pesquisadoras acreditam que o concentrado proteico de feijão carioca pode substituir a proteína de ervilha, por exemplo. A ervilha é bastante utilizada em suplementos e produtos vegetais, sendo muitas vezes importada. Além disso, também seria um bom substituto para aqueles que optam por não consumir soja.

Concentrado proteico de feijão carioca: resultados

concentrado proteico de feijão carioca
Embrapa / Divulgação

Aminoácidos essenciais são mantidos no concentrado

Uma das vantagens do concentrado proteico de feijão carioca é que ele contém todos os aminoácidos essenciais em quantidades recomendadas pela Organização Mundial da Saúde, pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura e pela Universidade das Nações Unidas. Isso significa que o ingrediente pode ser usado para fornecer proteína completa em produtos alimentícios.

Propriedades nutricionais

O concentrado proteico de feijão carioca foi comparado a seis ingredientes comerciais, incluindo farinhas, concentrados e isolados proteicos de soja, ervilha e feijão-fava. Os resultados indicam que as proteínas do feijão foram parcialmente digeridas, assim como as de outros ingredientes de leguminosas, como soja, ervilha e feijão-fava.

O concentrado de feijão carioca apresentou baixo teor de fitato, um composto que se liga a sais minerais no intestino, impedindo que o corpo aproveite bem esses nutrientes. Ainda, o concentrado de feijão carioca foi o ingrediente que menos apresentou os oligossacarídeos promotores de flatulência, quando comparado aos demais ingredientes comerciais.

Mercado de proteínas alternativas cresce no Brasil

O mercado de proteínas alternativas no Brasil vem crescendo a cada ano, mostrando toda a sua potencialidade. O concentrado proteico de feijão carioca é uma nova fonte de ingrediente nacional para a indústria de produtos plant-based.

Embora inicialmente possa ser mais caro do que ingredientes tradicionais, como soja e ervilha, já disponíveis no mercado, estudos de escalonamento podem tornar o produto competitivo, inclusive com oportunidade de exportação.

Testes sensoriais e muitas possibilidades

Testes sensoriais com voluntários mostraram que não houve diferença de aceitação entre alimentos feitos com o concentrado proteico de feijão carioca e um já comercializado no mercado.

Ademais, o concentrado de feijão carioca tem características muito semelhantes a outros produtos existentes no mercado que são clean taste. Ou seja, têm um sabor mais neutro que influencia menos no gosto final do produto.

Também é possível usar misturas de concentrados proteicos nos produtos, como soja, ervilha e feijão, para obter diferentes perfis de sabor e nutricionais.

Resíduo que sobra do feijão também pode ser aproveitado

Além do concentrado proteico, as pesquisadoras da Embrapa também descobriram que é possível aproveitar o resíduo que sobra do feijão após a extração do concentrado proteico para a utilização em diversos produtos da indústria alimentícia.

Tudo isso demonstra que o processo de produção do concentrado proteico de feijão carioca é altamente sustentável, pois utiliza toda a matéria-prima.

O concentrado de feijão carioca é o novo whey protein?

Conforme foi dito pelas pesquisadoras, o concentrado de proteínas de feijão carioca não tem o intuito de substituir o whey protein. Todavia, acreditamos que em breve poderemos ver o produto sendo utilizado em muitas alternativas de alimentação vegana, até mesmo em whey vegano.

Conclusão

Há muitas novidades que podem beneficiar cada vez mais o mercado relacionado ao veganismo, bem como o público adepto a este movimento. Portanto, o estudo realizado pela Embrapa sinaliza um passo relevante em direção à inovação e à fabricação de novos produtos veganos.

Ainda que o foco da pesquisa não esteja atrelado ao desenvolvimento de um novo tipo de whey protein, é inegável que a partir disso venha a se observar a presença de produtos do gênero nas prateleiras. Afinal, o “bean protein” (proteína de feijão) já é uma realidade!